A operação Lava-Jato trouxe à luz da justiça, muito mais do que os crimes de corrupção realizados dentro do Brasil e principalmente na Petrobrás. Através dela foi possível entender como a corrupção PTista foi fundamental para irrigar dinheiro para os membros do Foro de São Paulo.
Um dos casos mais emblemáticos é o do Porto de Mariel, onde é lembrado como um “presente” do então governo brasileiro ao regime cubano. Mas segundo o próprio Emílio Odebrecht, o projeto não era “brasileiro”. Na verdade, tratava-se de uma operação direta do Foro de São Paulo encabeçada pela Venezuela.
Em sua delação premiada no âmbito da operação Lava-Jato, o patriarca da família Odebrecht, relatou que visitou o Hugo Chávez em Caracas no ano de 2007 e que ele lhe solicitara pessoalmente que construísse um porto em Cuba, missão difícil de cumprir devido às sanções americanas e pela possibilidade de calote.
Emílio Odebrecht queria garantir o recebimento do investimento estratosférico, pois segundo o próprio empreiteiro, “em condições normais” nem mesmo a Odebrecht cogitaria em construir um porto em Cuba e nem o BNDES financiaria uma obra para a ditadura de Fidel Castro.
Odebrecht então negociou com Hugo Chávez: Faria a construção do porto para Cuba de Fidel, desde que o Brasil fosse o garantidor financeiro e que a obra fosse encomendada pelo Brasil. Hugo Chávez acenou positivamente e prometeu resolver a questão com alguns telefonemas.
Odebrecht ainda relata que a somente a intermediação de Hugo Chávez e posteriormente Lula foi o que possibilitou que a obra acontecesse. Lula inclusive teria manobrado para interferir nas decisões do BNDES para liberação do financiamento. Veja nas próprias palavras de Emílio Odebrecht:
“Chávez tinha uma relação muito intensa com Fidel, ao ponto de fazer preços camaradas na venda de barris de petróleo para Cuba. Ele me pediu que nós procurássemos viabilizar um programa de um porto lá em Cuba, porque era muito importante para os cubanos.”
“Um pedido do senhor é algo que vou encontrar uma forma de atender. Agora, eu precisaria que o governo brasileiro estivesse engajado nesse projeto e também solicitasse [a construção do porto] a Odebrecht. Eu não gostaria de tomar essa iniciativa sozinho. O senhor, que tem uma boa relação como presidente Lula, poderia ligar para ele e transmitir isso.”
A obra é erguida pelo Grupo Odebrecht em parceria com a cubana Quality e custou 957 milhões de dólares, sendo 682 milhões de dólares financiados pelo BNDES. Até agosto de 2021, a dívida de Cuba e da Venezuela com o BNDES já chegava a R$ 3,539 bilhões (US$ 682 milhões).
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