Imagens de satélite mostram expansão de supostas bases de espionagem chinesa em Cuba. Analistas identificaram quatro estações de escuta eletrônica, incluindo um local não relatado anteriormente perto de uma base naval dos EUA.
Imagens capturadas do espaço mostram o crescimento das estações de escuta eletrônica de Cuba que se acredita estarem ligadas à China, incluindo novas construções em um local não relatado anteriormente a cerca de 70 quilômetros da base naval dos EUA na Baía de Guantánamo, de acordo com um novo relatório.
O estudo do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, um think tank com sede em Washington, revelou que China e Cuba estava negociando laços mais estreitos de defesa e inteligência, incluindo o estabelecimento de uma nova instalação de treinamento militar conjunto na ilha e uma instalação de espionagem.
Na época, o jornal The Wall Street Journal informou que Cuba e China já operavam conjuntamente estações de espionagem na ilha, de acordo com autoridades dos EUA, que não divulgaram suas localizações. Não foi possível determinar quais, se houver, estão incluídos nos sites cobertos pelo relatório CSIS.
A preocupação com as estações, dizem ex-funcionários e analistas, é que a China está usando a proximidade geográfica de Cuba com o sudeste dos EUA para obter comunicações eletrônicas sensíveis de bases militares americanas, instalações de lançamento espacial e navios militares e comerciais.
China e Cuba estariam negociando para estabelecer uma nova instalação de treinamento militar conjunto na ilha, acionando o alarme em Washington de que isso poderia levar ao estacionamento de tropas chinesas e outras operações de segurança e inteligência a apenas 100 milhas (aprox. 161 km) da costa da Flórida.
As discussões para a instalação na costa norte de Cuba estão em estágio avançado, mas não foram concluídas, sugerem relatórios de inteligência dos EUA. O governo Biden entrou em contato com autoridades cubanas para tentar evitar o acordo, buscando explorar o que acha que podem ser preocupações cubanas sobre ceder soberania. O esforço de Pequim para estabelecer uma instalação de treinamento militar em Cuba não foi relatado anteriormente.
Mais preocupante para os EUA: a instalação planejada faz parte do “Projeto 141” da China, uma iniciativa do Exército de Libertação Popular para expandir sua base militar global e rede de apoio logístico, disseram um atual e um ex-funcionário dos EUA anonimamente. Importante ressaltar que o Exército de Libertação Popular pertence diretamente ao Partido Comunista Chinês, não é o exército regular da China.
Outros locais do Projeto 141 incluem um acordo para um posto avançado naval chinês no Camboja e uma instalação militar cujo propósito não é publicamente conhecido em um porto nos Emirados Árabes Unidos, disse um ex-funcionário dos EUA. Nenhum dos locais do Projeto 141 conhecidos anteriormente está no Hemisfério Ocidental.
Algumas dessas instalações também incluem capacidades de coleta de inteligência, incluindo uma base chinesa em Djibuti, no Chifre da África, a única base militar de Pequim fora da região do Pacífico, onde a China tem trabalhado para construir uma instalação para coletar sinais de inteligência.
Autoridades familiarizadas com o assunto disseram que a China concordou em pagar a Cuba vários bilhões de dólares para permitir a construção da estação de espionagem e que os dois países chegaram a um acordo de princípio.
China e Cuba já administram conjuntamente quatro estações de espionagem na ilha, de acordo com autoridades dos EUA. Essa rede passou por uma atualização significativa por volta de 2019, quando uma única estação se expandiu para uma rede de quatro locais operados em conjunto, e o envolvimento chinês se aprofundou, conforme as autoridades.
As instalações chinesas na ilha “também podem reforçar o uso de redes de telecomunicações pela China para espionar cidadãos americanos”, disse Leland Lazarus, especialista em relações China-América Latina da Universidade Internacional da Flórida.
A Casa Branca e o Escritório do Diretor de Inteligência Nacional não quiseram comentar.
Os autores do relatório do CSIS, depois de analisar anos de imagens de satélite, descobriram que Cuba atualizou e expandiu significativamente suas instalações de espionagem eletrônica nos últimos anos e identificou quatro locais – em Bejucal, El Salao, Wajay e Calabazar.
Embora alguns dos locais descritos pelo CSIS, como o de Bejucal, tenham sido previamente identificados como postos de escuta, as imagens de satélite fornecem novos detalhes sobre suas capacidades, crescimento ao longo dos anos e prováveis ligações com a China.
“Esses são locais ativos com um conjunto de missões em evolução”, disse Matthew Funaiole, membro sênior do CSIS e principal autor do relatório.
O relatório vem em meio a crescentes preocupações sobre a competição entre grandes potências no Caribe e em outros lugares da América Latina, onde Washington há décadas tenta impedir que rivais obtenham vantagens militares e econômicas.
A China está construindo um megaporto na costa do Pacífico do Peru. A Rússia, por sua vez, enviou recentemente um submarino de propulsão nuclear, capaz de disparar mísseis de cruzeiro Kalibr, e uma fragata para o porto cubano de Havana.
Em sua avaliação anual de ameaças divulgada em fevereiro, a comunidade de inteligência dos EUA disse publicamente pela primeira vez que a China está buscando instalações militares em Cuba, sem fornecer detalhes.
As autoridades chinesas enfatizam que os EUA têm uma vasta rede global de bases militares e postos de escuta. “Os EUA são, sem dúvida, a principal potência em termos de espionagem e nem poupam seus aliados”, escreveu Liu Pengyu, porta-voz da embaixada da China em Washington, em um comunicado. “O lado dos EUA tem repetidamente promovido o estabelecimento de bases de espionagem pela China ou a realização de atividades de vigilância em Cuba.”
O relatório diz que dois dos locais perto de Havana – Bejucal e Calabazar – contêm grandes antenas parabólicas que parecem projetadas para monitorar e se comunicar com satélites. O relatório observa que, embora Cuba não tenha satélites, as antenas seriam úteis para a China, que tem um programa espacial substancial.
A mais nova antena parabólica foi instalada em Bejucal em janeiro, segundo o relatório, que constatou essa e outras atualizações de infraestrutura nos locais na última década.
O mais recente dos quatro sítios, ainda em construção e não conhecido publicamente, fica em El Salao, nos arredores da cidade de Santiago de Cuba, no leste do país, e não muito longe da base naval americana de Guantánamo.
A construção lá começou em 2021, e o local parece projetado para abrigar uma grande formação de antenas conhecidas como um conjunto de antenas dispostas circularmente, que podem ser usadas para encontrar e interceptar sinais eletrônicos, disse o relatório.
O local, quando concluído, poderia monitorar comunicações e outros sinais eletrônicos vindos da base de Guantánamo, disse Funaiole.
Os EUA e a Rússia abandonaram em grande parte esse tipo de conjunto de antenas em favor de tecnologias mais recentes, mas a China as tem construído em vários postos avançados militarizados no Mar do Sul da China, disse ele.
Durante a Guerra Fria, a União Soviética operou seu maior local no exterior para espionagem eletrônica, conhecido como inteligência de sinais, em Lourdes, nos arredores de Havana. O local, que supostamente hospedava centenas de oficiais de inteligência soviéticos, cubanos e outros do bloco oriental, fechou depois de 2001, e seu status atual não está claro.
A China desempenhou um papel maior na ilha nos anos mais recentes e, de acordo com um comunicado da Casa Branca no ano passado, realizou uma atualização de suas instalações de coleta de inteligência em Cuba em 2019.
Autoridades dos EUA disseram que a referência à nova instalação de treinamento proposta em Cuba está contida na nova inteligência altamente confidencial dos EUA, que eles descreveram como convincente, mas fragmentária. Ela está sendo interpretada com diferentes níveis de alarme entre formuladores de políticas e analistas de inteligência.
Algumas autoridades de inteligência dizem que Pequim vê suas ações em Cuba como uma resposta geográfica à relação dos EUA com Taiwan: os EUA investem pesado em armar e treinar a ilha autônoma que fica ao largo da China continental e que Pequim vê como sua.