Cartel dos Sóis: a arma e o tesouro de Maduro na Venezuela 

Apesar do nome, não se trata de um grupo hierárquico, mas sim de uma rede de redes dentro dos principais ramos das Forças Armadas — o Exército, a Marinha, a Força Aérea e a Guarda Nacional, dos níveis mais baixos aos mais altos —, que são frequentemente protegidas, coordenadas ou, em alguns casos, até dirigidas por atores políticos. Essas redes são altamente fluidas e estão em constante fluxo, sendo a sua composição dependente da rotação do pessoal militar e do patrocínio político.

O nome “Cartel dos Sóis” se dá devido às estrelas douradas que os generais da Guarda Nacional Venezuelana usam em suas dragonas. Muitos dos 2.000 generais de Maduro também estão fortemente envolvidos no tráfico de drogas.

Na Colômbia, o Presidente Álvaro Uribe, apoiado por milhares de milhões de dólares de ajuda militar dos EUA, lançou um ataque militar sem precedentes contra os grupos guerrilheiros de esquerda do país, sobretudo as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que pressionaram os guerrilheiros a transferirem mais das suas operações — incluindo as suas crescentes operações de tráfico de cocaína — para os estados fronteiriços mal policiados da Venezuela. Lá, construíram laços cada vez mais estreitos com o governo do Presidente Hugo Chávez, que via as guerrilhas não apenas como aliados ideológicos, mas também como um baluarte estratégico contra uma Colômbia cada vez mais hostil, ao lado de seu aliado, os Estados Unidos.

Entretanto, na Venezuela, o Presidente Chávez foi brevemente afastado do poder numa tentativa de golpe de Estado reconhecida pelos EUA. Na sequência, Chávez reforçou o apoio dos militares, preenchendo muitos cargos governamentais influentes ou oportunidades de contratos lucrativos com apoiantes do Exército, e fechando os olhos à crescente corrupção dos militares.

Com os militares cooperando ativamente com os guerrilheiros na região fronteiriça e com carta branca para participar em atividades criminosas, o cenário estava montado para se aprofundar cada vez mais o comércio de drogas. Em pouco tempo, as células das forças de segurança começaram não só a acobertar os traficantes de drogas para lhes permitir movimentar carregamentos, mas também a alavancar as suas alianças com os guerrilheiros e outros atores criminosos para comprarem, armazenarem, movimentarem e venderem cocaína.

À medida que aumentava a quantidade de cocaína que circulava pela Venezuela, aumentavam as evidências de que um número crescente de altos membros da administração Chávez também facilitavam ou mesmo participavam diretamente do tráfico de drogas. Alguns, como o oficial de inteligência Ramón Isidro Madriz Moreno, e o líder político Amilcar Jesús Figueroa Salazar, foram sancionados pelas autoridades dos EUA como membros do Cartel dos Sóis, menos por tráfico de drogas e mais pela sua alegada colaboração com as FARC. Outros, como o então chefe da inteligência Hugo “El Pollo” Carvajal e o ex-general militar Cliver Antonio Alcalá Cordones, foram acusados de colaborar diretamente com traficantes de drogas colombianos e venezuelanos, não apenas protegendo suas operações, mas também investindo em seus próprios carregamentos de cocaína e organizando operações de tráfico.

Segundo a Vice News, o governo venezuelano de Hugo Chávez expandiu a corrupção a “níveis sem precedentes” num Exército já corrupto. Chávez deu aos oficiais militares milhões de dólares para programas sociais que alegadamente desapareceram, dando também imunidade legal aos oficiais do tráfico de drogas para manterem o poder e a lealdade. Quando Chávez derrubou a Administração Antidrogas dos Estados Unidos em 2005, a Venezuela tornou-se uma rota mais atraente para o comércio de drogas. Segundo a inteligência colombiana, um vigilante antidrogas preso afirmou que “figuras importantes das forças de segurança do Presidente Hugo Chávez devem organizar remessas de drogas através da Venezuela”. Foi alegado que a Guarda Nacional trabalhou com as FARC no comércio de drogas. Autoridades britânicas alegaram que os aviões de origem colombiana também seriam protegidos por bases da Força Aérea Venezuelana.

Maduro começou a aparecer nesta organização em 2005, quando, como deputado da Assembleia Nacional, Hugo Chávez teria lhe dado instruções para garantir que as atividades dos narcoguerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) fossem protegidas, e que, para isso, “os juízes venezuelanos que não protegeram as FARC e suas atividades deveriam ser removidos de seus cargos”. Coincidência ou não, foi pouco depois que a Venezuela encerrou o trabalho de colaboração com a Agência Antidrogas dos Estados Unidos (DEA).

As acusações de envolvimento oficial no tráfico de drogas tiveram seu ápice em março de 2020, quando o Departamento de Justiça dos EUA indiciou o sucessor do presidente Chávez, Nicolás Maduro, ex-Vice-Presidente e amplamente considerado o segundo homem mais poderoso do movimento chavista, Diosdado Cabello, e vários outros, atuais e antigos responsáveis venezuelanos, bem como membros da agora desmobilizada liderança das FARC, sob acusações de “narco terrorismo”. Outros nomes importantes na organização apontados pelo Departamento de Justiça americano são: Vladimir Padrino López (ministro da defesa), Maikel Moreno (presidente do Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela) e Tarek El Ais-sami (ex-vice-presidente e ex-ministro do petróleo).

Paradoxalmente, as sanções americanas a altos funcionários do regime tiveram um efeito positivo na economia, uma vez que os altos chefes do “Cartel dos Sóis” não podendo retirar o seu dinheiro da Venezuela, passaram a “investir” no país, o que levou a um boom econômico e uma bolha de luxo em algumas áreas da capital venezuelana. Este processo também foi utilizado pelo regime chavista para criar a narrativa de que “a Venezuela se recuperou e está bem”.

Fato curioso, é que suborganizações criminosas foram criadas no Cartel dos Sóis, como uma espécie de “poupança pessoal”. O então chefe de inteligência Hugo “El Pollo” Carvajal e o ex-general militar Cliver Antonio Alcalá Cordones, foram acusados de colaborar diretamente com traficantes de drogas colombianos e venezuelanos, não apenas protegendo suas operações, mas também investindo em seus próprios carregamentos de cocaína e organizando operações de tráfico próprias.

Neste complexo emaranhado, as drogas passam por vários nós de tráfico diferentes, à medida que se movem pelo país. Os militares venezuelanos desempenham diversos papéis em várias regiões, ao mesmo tempo que, políticos locais e estrangeiros, gerenciam direta ou indiretamente as relações entre estes militares e os grupos criminosos, controlando o ambiente de operações.

A maneira mais comum de atuação é receber pagamentos para fechar os olhos ou garantir impunidade das operações por meio de pagamentos regulares e criando corredores de livre circulação para traficantes. Estes podem ser aéreos, por exemplo, desligando os radares para permitir a passagem de voos de drogas ou fornecendo códigos especiais para o voo a ser registrado como legal, terrestre, por exemplo, facilitando a passagem por redes de postos de controle, ou marítimos, por exemplo, interrompendo as patrulhas em determinados horários para permitir a passagem de barcos de drogas.

Em alguns casos, os militares facilitam o tráfico por meio do controle de infraestruturas-chave, principalmente portos de embarque e aeroportos. E em outros, sobretudo ao longo de corredores de movimento interno, células militares transportam remessas por conta própria, muitas vezes em veículos oficiais.

As provas disponíveis sugerem que o regime de Maduro mantém o controle desse sistema ao nível nacional, não através da intermediação de negócios de cocaína, mas da atribuição e distribuição de concessões, nomeações de escolha e garantia de proteção.

Atualmente, os Estados Unidos oferecem uma recompensa de quinze milhões de dólares pela captura de Nicolás Maduro, como o líder do cartel dos sóis.

Além do governo venezuelano, as principais afiliações do Cartel dos Sóis são:

• FARC

• Cartel de Sinaloa

• ELN

• Los Zetas

• Máfia ex-FARC

• Máfia turca

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