Lula: o herói de papel da última semana

Diz-se que para uma geração estar completamente formada, são necessários vinte anos. O momento político do Brasil nos apresenta de maneira sublime um contraste que comprova esta tese.

Estamos presenciando um deslumbre, muito semelhante a uma paixonite de verão, entre os jovens brasileiros e a figura mitológica do velho novo presidente Lula. Enxergam nele um homem preocupado com as mazelas sociais, que olha para o íntimo de suas almas e entende a complexidade de sua realidade opressora, onde nenhum adulto, principalmente seus pais, são capazes de entender a dor de suas jovens almas, que sofrem como espíritos cansados no auge de seus vinte e poucos anos. Lula, surge como aquele tio cabeça aberta, que entende as suas cabeças modernas, que não possui preconceitos e não julga todas as evoluções progressistas da sociedade atual que, acreditam serem iluminados com a clarividência da alma humana, enquanto é cercado por um bando de obscurantista e odientos preconceituosos.

Nas redes sociais, o movimento de massa é alimentado por frases belas como “o amor venceu”, “ele está preocupado com a fome”, “ele chorou pelas injustiças sociais”, “ele defende o direito dos animais”, “apoia as políticas de gênero… ou melhor, do amor livre”. Uma realidade tão evidente nestas palavras que negá-las passa a tornar-se crime. Sim, qualquer um que faz parte do círculo social “dinâmico” e que não repetir e sentir essas verdades quase de “fé”, não tem coração. É a ditadura do amor.

O contraste fica justamente por conta da geração anterior, aquela que hoje está acima dos trinta e cinco anos de idade, a geração dos anos 1980, a qual eu me incluo. Essa geração, assim como a atual, também viveu esta paixão juvenil da colônia de férias no fim de ano. Nos anos 1980 e 1990 nos apresentaram todos os problemas do mundo, de injustiças sociais, de classes exploradas por um capitalismo selvagem, subserviente a patrões exploradores, etc. Votamos com uma paixão feroz em Lula em 2002, com o afinco de que o Brasil iria renascer e que nunca antes na história deste país, tivemos a chance de fazer a revolução democrática do povo. A triste realidade, é que percebemos em pouco tempo que, todas as promessas feitas não eram prioridade do governo e as juras de amor cantadas, não passavam de flerte em busca do poder. Os escândalos de corrupção eram empilhados um dia após o outro, com a destruição da máquina pública em favor de um projeto de poder internacional, o financiamento de ditaduras e repressão em nome da “liberdade”, a subversão dos valores familiares através da arte era classificada como alta cultura. Ora, a paixão arrebatadora de verão tornou-se um relacionamento tóxico e dele não podíamos sair.

Agora, vou dirigir-me diretamente a estes jovens enamorados de um fogo revolucionário.

Hoje, as juras são ainda mais egoístas, pois quase não foi preciso fazer promessas, mas apenas negar o passado com toda veemência e cumplicidade militante possível, reescrever os livros didáticos, distribuídos pelo próprio governo ao qual você amou odiar, vale lembrar. Porém, o ponto alto foi o mais simples: os seus próprios desejos. Sim, foi necessário apenas lhe oferecer um mundo anárquico, sem a ordem dos valores familiares, sem hierarquia no trabalho, sem meritocracia… bastando apenas que você, como um símbolo, fizesse parte de alguma minoria pretensamente perseguida para ter garantido o seu direito às melhores vagas de emprego e socialmente garantido o seu privilégio de odiar o contrário em nome do amor, pois se você defende, só pode ser pelo bem maior da sociedade. Você foi estimulado a achar que o sexo é uma construção social e a entregar o seu espírito à lascívia e a futilidade de uma sociedade UBERizada, a isso foram dados os nomes de libertação, progresso e amor livre, quando na verdade você está destruindo o seu amor-próprio. Não foram necessárias promessas, mas apenas aplaudir efusivamente o comportamento bárbaro ao qual você chama de novo normal, apenas sinalizar que o apoia, automaticamente como uma criança fácil de enganar, você entregou o seu coração em nome de uma “saudade daquilo que ainda não viveu”.

Em breve, muitos de vocês começarão a acordar do transe e perceber que o relacionamento começará a ficar tóxico, assim como aconteceu com a minha geração. Como diria Renato Russo: “nos deram espelhos e vimos um mundo doente”.

5 comentários sobre “Lula: o herói de papel da última semana”

  1. Paula Chrestan disse:

    Vc foi cirúrgico senhor Paulo Henrique.
    Mas um belo artigo p seus próximos livros.
    Descreveu a realidade do nosso momento atual.

  2. Ivo O M de Carvalho disse:

    Paulo, eu tenho uma dúvida a respeito dessa geração manipulada com essa mentira : quanto tempo levarão para perceber toda essa enganação ? Nunca gostei da esquerda e sempre combati essa ideologia. Digo sempre porque já com 12 anos de idade lá em 1987 debatia com a professora de história, uma marxista (eu desconhecia Marx), sem saber de onde eu tirava meus argumentos. Talvez da realidade de ver o esforço dos meus pais e o entorno que não era tranquilo. Óbvio que cai no conto do “PSDB direita”. Infelizmente só conheci o trabalho do Prof. Olavo de Carvalho muito tarde, no início de 2020. A nossa geração precisou de 3 anos para começar a sair do transe. Imagino se essa “nova juventude” precisar de mais tempo para começar a sair do deslumbre. Precisamos agir rápido para salvarmos o Brasil. Parabéns pelo artigo.

    1. M Araujo disse:

      Quando entrarem ou tentarem entrar no mercado de trabalho, talvez? Onde as proteções e bolhas de grupos de mesma mentalidade vão ficando mais escassas? A ver…

  3. Ana Paula Seixas Marrichi Teixeira disse:

    Que baita texto PH. Quando comecei a ler me perguntei se é assim mesmo, pois os jovens com os quais convivo não tem essa visão, acredito que por viver no interior do Brasil mesmo. Mas quando você falou de redes sociais… foi que eu me dei conta. Excelente!

  4. Fabiana disse:

    O próximo filme do Lula vai ser o revolucionário mais ladrão da história, este filme vai ter 70% de audiência.

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