No último dia 14 de julho de 2023, a ministra do STF Rosa Weber, durante o Seminário e Encontro Nacional da Associação de Advogados e Advogadas pela Democracia, Justiça e Cidadania (ADJC), comparou os acontecimentos do 8 de janeiro no Brasil com o ataque japonês a Pearl Harbor que vitimou mais de 2000 pessoas. A seguir a declaração da magistrada:
“O presidente Franklin Roosevelt, em 8 de dezembro de 1941, perante o Congresso Norte-Americano, ao reagir ao ataque aéreo japonês, deflagrado na véspera, contra as Forças Navais Norte-Americanas, em Pearl Harbor, no Havai, disse que aquela data, 7 de dezembro de 1941, pelo caráter traiçoeiro da agressão, viveria eternamente na infâmia”. Para nós, 8 de janeiro de 2023 será eternamente o Dia da Infâmia. E não deixaremos ser esquecido, na defesa da democracia constitucional e do Estado Democrático de Direito”.
Este expediente não é novo, e tão pouco original por parte da ministra. No dia 6 de janeiro de 2022, a atual vice-presidente dos EUA comparou o 6 de janeiro de 2021 ao ataque de Pearl Harbor:
“Certas datas ecoam ao longo da história, incluindo datas que lembram instantaneamente a todos que viveram onde estavam e o que estavam fazendo quando nossa democracia foi atacada. Datas que ocupam não apenas um lugar em nossos calendários, mas um lugar em nossa memória coletiva: 7 de dezembro de 1941, 11 de setembro de 2001 e 6 de janeiro de 2021.”
Transformar o 8 de janeiro em algo tão elástico de o comparar com um acontecimento tão brutal, que levou à morte 2 mil pessoas é perigoso.
É perigoso, por relativizar o valor da vida humana.
É perigoso, por relativizar o peso do acontecimento histórico.
Por fim, é perigoso ao equiparar o valor do Estado ao valor da vida humana.
Esta ação de transformar o inimigo em não humano, retira todo valor do indivíduo e a total capacidade de empatia com os inocentes que permanecem presos. É desta forma que o clima para perseguições políticas começa. Foi com este estado de espírito que povos foram perseguidos na história, principalmente no século XX.
Seguindo este expediente, muitos alemães deixaram de perceber o que seria o Holocausto, que matou mais de 6 milhões de judeus.
Foi assim que muitos russos fecharam os olhos para o Holodomor (fome ucraniana que matou mais de 2 milhões de ucranianos).
Também foi assim que a revolução cultura chinesa matou 60 milhões de pessoas, dentre estes, alguns por serem donos de uma vaca.
Muitos se perguntam: “como tudo isso aconteceu?”
Bem, começa retirando a humanidade das vítimas.